Irrigação gota a gota

No passado a água e a terra agricultável eram consideradas mundialmente como recursos abundantes e renováveis. No limiar do Século XXI, porém, são reconhecidos como os recursos naturais mais valiosos e escassos. Por isso a comunidade agrícola mundial está ciente da necessidade de se adotar práticas agrícolas sustentáveis para conservar a água e evitar danos às terras cultiváveis.

Onde o fornecimento regional de água limitado, as demandas já estão gerando conflitos; e na medida em que aumenta a pressão sobre os recursos hídricos do planeta, decisões difíceis serão exigidas, com os agricultores e a população em geral vendo-se forçados a adotar programas de conservação.

A tecnologia da irrigação por gotejamento envolve diretamente a urgente necessidade de conservar e proteger o ambiente, ao permitir que o agricultor distribua de maneira uniforme a água e os elementos nutritivos à zona das raízes em quantidades precisas para atender as necessidades das plantas. Isso significa o uso de menores quantidades de água, fertilizantes e demais produtos químicos, ao mesmo tempo em que se aumentam os rendimentos e se obtêm produtos de melhor qualidade.

A irrigação por gotejamento teve origem na Inglaterra, nos anos 40, mas só se desenvolveu como tecnologia comercialmente viável na década de 60, nos Estados Unidos e Israel, com o lançamento dos plásticos de polietileno. De início os produtores agrícolas não consideravam prático o sistema, porque o viam como um método muito diferente dos tradicionais, de irrigação por aspersão ou inundação. Entretanto, anos de pesquisa conjunta entre produtores, universidades e órgãos governamentais demonstraram suas inúmeras vantagens.

Hoje, como resultado de seus comprovados benefícios agronômicos, de conservação e econômicos, a irrigação por gotejamento logrou aceitação geral e está sendo aplicada cada vez mais por produtores competitivos em todo o mundo no cultivo de hortaliças, frutas, cereais, flores, algodão, cana de açúcar e vinhedos, entre outros.

MÉTODOS TRADICIONAIS

Os métodos tradicionais, de inundação e aspersão, aplicam a água em altas quantidades e em grandes áreas, com limitada dispersão exatamente nos pontos necessários, nas raízes das plantas. Esses sistemas rápidos e amplos desperdiçam água pelo escorrimento, evaporação e lixiviação profunda. Também lixiviam os produtos químicos e fertilizantes fora da zona radicular das plantas.

Um sistema de irrigação por gotejamento distribui a água lenta e diretamente na zona radicular, através de canos e mangueiras flexíveis de polietileno, com emissores ou gotejadores incorporados em linha, que se estende ao longo das linhas das plantas. Num sistema bem planejado, esses emissores aplicam a água com uniformidade em todo o campo. O objetivo do agricultor é manter as condições de umidade do solo próximas das ideais e levar às plantas os elementos nutrientes de forma contínua, para reduzir o estresse e promover o desenvolvimento constante. Isso se obtém através de ciclos de irrigação leves porém constantes fornecendo os elementos nutrientes via sistema, na freqüência requerida pela cultura.

Os sistemas de irrigação por gotas podem estender-se pelo terreno ou ser enterrados a profundidades de 4 a 30 cm. Os sistemas enterrados são menos suscetíveis a danos mecânicos e aos causados por pragas.

As tecnologias de irrigação por gotas mais importantes para o futuro são a cinta de gotejamento e os emissores em linha. Os principais fatores que determinam o tipo mais apropriado são a aplicação, os custos, as condições de campo e as práticas de manejo.

A cinta de gotejamento é uma mangueira de finas paredes com os gotejadores ou emissores moldados na parede do tubo. Estão disponíveis com espessuras de paredes de 0,12 a 0,40 cm e com distâncias entre gotejadores de 10 a 60 cm. Há disponíveis muitas taxas de fluxo para atender às necessidades de cultivos específicos e condições particulares. A cinta de gotejamento é a tecnologia mais efetiva e por isso usada amplamente em culturas em linha de uma só temporada e larga duração.

Os gotejadores em linha têm um emissor moldado que se instala no interior do tubo no processo de extrusão. Esse tipo de mangueira para gotejamento vem com espessuras de parede de 0,20 a 1,25 mm e distâncias entre emissores de 40 a 120 cm. Os emissores em linha são os mais usados em aplicações a longo prazo de vinhedos e hortas.

Pode-se projetar um sistema de irrigação desse tipo para propriedades de qualquer tamanho, mas todos terão componentes principais similares: bomba, filtros, reguladores de pressão, válvulas e cinta de gotejo. Um componente opcional, porém recomendável, é um subsistema de injeção de produtos agroquímicos e fertilizantes. Em sistemas mais avançados tecnicamente costuma-se instalar também reguladores automáticos de válvulas, medidores de fluxo, sensores de umidade, por exemplo.

VATANGENS DO SISTEMA

Originalmente pensava-se que a conservação da água era o principal benefício do sistema. A experiência demonstrou que a irrigação por gotejamento bem planejada e bem administrada oferece outras vantagens agronômicas e econômicas igualmente importantes e, em conseqüência, produtores agrícolas de todo o mundo estão adotando essa tecnologia. Algumas de suas vantagens específicas são:

Maior qualidade e rendimento- Com os métodos tradicionais de irrigação não é prático aplicar a água e o fertilizante em pequenas quantidades ou com freqüência. Por isso a cultura alterna momentos de escassez com outros de excesso de água. A irrigação programada permite que a água e o fertilizante cheguem exatamente quando e onde são necessários, produzindo colheitas mais abundantes e de melhor qualidade.

Conservação da água- A irrigação leva a água na quantidade certa para aproveitamento. Além disso, os sistemas de gotejamento não umedecem toda a superfície. Como resultado, as perdas de água por evaporação, lixiviação profunda e escorrimento são reduzidas ao mínimo ou eliminadas. Isso não somente conserva água como também reduz a contaminação do lençol freático.

Flexibilidade de trabalho- A irrigação por gotejamento não impede a execução de outros trabalhos simultâneos, na superfície, como a pulverização ou colheita.

Insumos de baixo custo- Ela torna também possível a aplicação uniforme de água, agroquímicos e fertilizantes na medida em que são necessários, economizando caros insumos. Não raro reduz o custo de produção de 25 a até 50%.

Conservação de energia- A baixa pressão que requerem esses sistemas (0,5 bar) requer pouco bombeamento, consumindo portanto menos energia do os sistemas de aspersão.

Menos doenças- A incidência de doenças fúngicas é menor porque a folhagem não se molha e a umidade do solo é controlada.

Menos invasoras- Irrigando-se apenas as plantas, e não o terreno todo, o crescimento de ervas daninhas entre as linhas diminui.

Eficiência em solos difíceis- Os sistemas de gotejamento são ideais para solos pesados, com taxas de infiltração baixas, pois a água pode ser aplicada em fluxo suficientemente baixo para que o solo a absorva, reduzindo ou eliminando o escorrimento superficial. Os solos arenosos, sem capacidade de armazenar a umidade, também podem ser cultivados dessa forma, usando-se irrigação mais freqüente.

DESVANTAGENS DO EQUIPAMENTO

Com suas inúmeras vantagens, os sistemas de irrigação por gotejamento têm certas desvantagens de custo e operacionais, a maioria das quais podem ser superadas através de um bom planejamento do sistema, instalação apropriada, manutenção e manejo adequado e contínuo. Algumas desvantagens:

• O custo inicial de um sistema como esse é mais alto do que os outros. É preciso adquirir filtros, bombas reguladoras, válvulas, medidores e canalizações.

• Os cultivos com esse sistema requerem mudanças no sistema de trato de solo, semeadura e colheita. É preciso educar e capacitar o pessoal que vai operá-lo.

• O pequeno orifício dos gotejadores pode obstruir-se com água suja. Por isso é necessário analisar-se a qualidade da água para detectar-se problemas.

• Algumas culturas não germinam bem nesse sistema. É necessário usar-se um sistema de aspersores portáteis para a germinação.

Um sistema de irrigação por gotejamento não torna boa uma operação agrícola. Ao contrário, para assegurar o êxito, deve-se começar com uma boa operação e adotar-se o sistema, ajustando as práticas ao novo método.

A irrigação por gotejamento é uma tecnologia comprovada de rápida expansão, compatível com os objetivos mundiais de conservação da água e proteção ambiental.

Artigo visto em: http://www.grupocultivar.com.br/site/content/artigos/artigos.php?id=134

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